Exportação é alternativa para minimizar o número de demissões no setor industrial

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O setor industrial tem vivido dias difíceis desde março de 2014, quando iniciou uma trajetória de declínio nos números de sua produção. De lá para cá, foram 16 meses de quedas consecutivas, que não só abalaram as estruturas dos rendimentos internos do País, mas também os índices de empregos formais. Agravado pela crise, pela queda no consumo e pelo aumento de taxas e impostos, o setor passa por uma das piores fases de sua história. Segundo divulgado pelo IBGE no início deste mês, a produção industrial recuou 6,3% no primeiro semestre de 2015, percentual superior a toda a queda industrial registrada em 2014, acumulada em 3,2%.

Mesmo com esse cenário complicado, sou otimista quanto à recuperação da nossa economia, até mesmo por uma questão histórica. Alguém se lembra da chamada “Década Perdida”? Para quem não se recorda, ela aconteceu em meados dos anos 80 e boa parte dos 90, quando os altos índices de inflação, motivados pela correção monetária daquele período, refletiram diretamente os incentivos e desempenho da indústria.

Sendo assim, é possível traçar um paralelo entre a situação daquela época e a atual. A prática de realizar desligamentos de funcionários, aguardando melhores condições para voltar a contratar, era comum. Visto que o mercado não estava aquecido, o serviço encareceu e a oferta era maior do que a procura.

Nesse caótico cenário, pudemos acompanhar, porém, o nascimento de uma tendência empreendedora. Graças à estratégia de retenção da indústria, os dias melhores chegavam, progressivamente. A estabilização de taxas, a valorização da moeda, o ganho de mercado, os investimentos governamentais que alavancam a demanda por produtos industriais, entre outros, contribuíram para a melhora da economia. Tudo era cíclico: novas crises geravam novas demissões, novas fases traziam novos investimentos, crescimento e serviços, e, novamente, cenários mais motivadores.

Com a recuperação da economia, as empresas ingressavam na busca por novos profissionais, chegando até a recontratar pessoas para aquelas vagas que foram cortadas no passado. Mas, não raras vezes, no momento em que as organizações voltavam a buscar os profissionais antigos, notava-se que muitos já estavam contratados por outras empresas, ou administrando seu próprio negócio – o que também auxiliou na melhora da economia.

Mas o processo seguia de forma cíclica. Inclusive, me recordo de um estudo realizado naquele período que demonstrava o imenso desperdício de tempo e investimento em treinamentos, que eram dissipados com as constantes contratações. Os novos empregados recebiam os treinamentos e meses depois iam embora. Os futuros substitutos ganhavam novas remessas de aulas e ensinamentos, e tudo ocorria novamente.

Mas é claro que não era só o mercado que percebia essa movimentação. As empresas passaram a criar alternativas para se manter operando e conseguir assegurar os empregos, os talentos e garantir a perenidade. A partir daí nasceu uma alternativa que também deve ser pensada no atual período que estamos vivendo: a exportação. Na “década perdida”, a exportação foi considerada um “seguro contra a inflação”, que era acionado sempre que necessário.

A atividade da exportação trouxe a elevação da qualidade dos serviços das empresas que estavam de olho no mercado internacional. Os ganhos não foram só financeiros, mas também nas práticas estruturais da rotina de uma companhia, como padrão de atendimento e relacionamento.

Embora fatalmente menos lucrativa do que as vendas realizadas dentro do País, a exportação era uma ótima maneira de se preservar os executivos importantes. Assim, evitava-se a migração de pessoas-chave do para a concorrência, além de assegurar que o conhecimento e a experiência seriam mantidos e aplicados no negócio.

Como headhunter e antigo trabalhador das indústrias nacional e internacional, vejo na exportação uma saída palpável para a preservação do capital humano. Mas vale lembrar que a proposta de exportar não oferece vantagens de crescimento nesse mesmo curto prazo, já que não se reajustam os preços da exportação da noite para o dia. Ou seja, há uma demora para criar estabilidade e fluxo de mercado.

Mesmo assim, ela permite que as empresas tenham a garantia de conter os índices de produção – o que já é um respiro incrível. Outro ponto importante é a valorização do dólar, que torna a oferta de inserir a exportação na rotina das empresas muito mais vantajosa. Com o dólar batendo R$3,80, os produtos da indústria brasileira ficam muito mais atraentes se comparados aos do EUA, por exemplo.

Em meio à turbulência de ânimos que estamos vivendo com a conjuntura do País, algumas alternativas podem contribuir para um processo de recuperação da economia. A exportação não soluciona as dificuldades da indústria, mas ameniza os impactos e mantém os índices de emprego, preocupação essa que tem sido frequentemente discutida no Brasil. Devemos ser otimistas também. Embora obviamente essa alternativa não isente os incentivos fiscais que o governo deve se empenhar em oferecer, ela é uma saída justificável e possível para atrair mercado e iniciar a caminhada rumo a dias melhores.

 

*Arthur Vasconcellos é sócio da The Caldwell Partners, uma das principais empresas de recrutamento e seleção de altos executivos do mercado.