As principais características da logística brasileira

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* Por Michèle Cohonner

Nas viagens que realizo pelo mundo e também nos debates em que me envolvo sobre o cenário logístico mundial, por diversas vezes escuto uma pergunta muito peculiar, que já me instigou a iniciar algumas pesquisas em busca de respostas. A equação que envolve o tamanho do Brasil versus sua infraestrutura atual gera questionamentos sobre qual é o caminho que as empresas devem trilhar para driblar as dificuldades logísticas locais e conseguir trilhar uma história de sucesso em um País tão rico e promissor economicamente.
Antes de tudo, sempre que inicio essa discussão, toco em um ponto relevante sobre as dificuldades do setor. A logística, por si só, é uma atividade extensa que requer uma gestão muito complexa, o que a torna extremamente burocrática e difícil de ser executada — e isso em qualquer lugar no mundo. Alguns processos exigidos na estruturação de uma cadeia de suprimentos exigem uma análise prévia e um extenso planejamento sobre armazenagem, compra e distribuição de produtos, todas etapas vitais para o negócio e que, portanto, devem ser encaradas com seriedade.
Quando nos referimos às atividades logísticas no Brasil, a falta de investimentos adequados no modal rodoviário representa para o País um déficit considerável de infraestrutura em comparação com outros lugares do mundo, o que implica em uma dificuldade a mais a ser superada. Notamos, diariamente ao ver os noticiários, que mais de 60% das atividades logísticas estão concentradas em sobrecarregados meios terrestres. Junte-se a essa sobrecarga o fato das estradas ainda estarem pouco preparadas para esse volume, algumas piores, nos dando impressão de que os investimentos nunca chegaram a esses caminhos.
Uma das soluções que posso enxergar para essa problemática e que iria auxiliar muito o desenvolvimento da logística no Brasil é investir, num primeiro momento, mais focado nos trajetos que levam até os portos e em suas estruturas. A ligação de produtos e fretes de um oceano ao outro é algo utilizado com mais eficiência em outros países e que garantem resultados positivos. O Brasil precisa usufruir melhor de sua imensa costa com a implementação de uma estrutura aeroportuária que agilize a entrada e saída de mercadorias, especialmente nas regiões com potencial pouco explorado, como por exemplo alguns estados do Nordeste. São investimentos que só agregam valor ao País e geram aumento de emprego e renda.
A falta de capacitação de pessoal é outro ponto que causa transtornos na evolução da atividade logística no Brasil. Para se ter uma ideia do impacto desse problema, alguns motoristas de caminhão entram nesse mercado de maneira amadora e autônoma. Por conta disso, não possuem treinamento ou preparo sobre segurança e, muitas vezes, não sabem exatamente como o caminhão que dirigem se comporta na estrada e em situações de risco. O resultado deste despreparo é algo que, infelizmente, já conhecemos bem: acidentes, panes, perda de mercadorias, prejuízos econômicos e sociais, entre outros. Vale destacar também que o País necessita de mais atenção nos planejamentos de operações logísticas, desde a prospecção até a logística reversa. Uma empresa deve ter uma projeção de previsibilidade que auxilie na sua produção, por isso a importância de ferramentas tecnológicas que contribuem no processo de inovação, agilizem a realização dos serviços, e claro, agreguem valor às empresas.
Em logística, a capacitação de mão de obra que atua em qualquer parte da cadeia, assim como infraestrutura são fundamentais. O Brasil é grande, promissor e com muita gente capaz para contribuir com esse desenvolvimento. O que ainda se discute é como vencer as dificuldades relacionadas a infraestrutura, de forma a dar vazão a esse potencial ainda represado do País. E isso se faz com investimentos aplicados aos lugares certos. Em logística, isso significa dizer: estradas, portos, aeroportos e pessoas. É assim que garantimos que tudo aquilo que suamos para produzir chegue ao seu destino, sem desperdícios ou custos desnecessários.