2016: Um ano para se aprender com os erros

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*Por Adilson Parrella, sócio da The Caldwell Partners no Brasil

Com a experiência que tenho ao longo dos meus 25 anos de carreira, fazendo uma análise de 2016, posso dizer que foi um ano que levou o País a transitar por um cenário bastante desafiador e fará com que o Brasil leve alguns anos para se recuperar totalmente. Muitas famílias foram prejudicadas e lutam para conseguir pagar as contas e manter a casa em ordem. Os números definem o quão preocupante é a situação atual: 12 milhões de pessoas estão sem emprego, de acordo com dados do IBGE, o que equivale a mais de 11% da população economicamente ativa.

A situação financeira do país, com a inflação, as elevadas taxas de juros, impostos astronômicos e prefeituras falidas são reflexos de outra crise: a política. A maior que o país já sofreu desde que nos entendemos como uma sociedade democrática. Passamos por um processo de impeachment e indefinições no governo. A instabilidade, nesse quesito, prejudicou a chegada de investimentos estrangeiros e o desejo de grandes empresas em apostarem no Brasil. Mudamos de presidente. Todo o cenário político se transformou. Enquanto novos governantes assumiam seus postos, outros eram presos.

A operação Lava-Jato é um exemplo de que, nós brasileiros, estamos cansados de corrupção, do assalto aos cofres públicos e que é necessário um basta a impunidade. De acordo com um balanço da força-tarefa formada pelo MPF, Polícia Federal e Receita Federal, até agora 250 pessoas foram denunciadas durante a operação em 54 ações penais. 82 foram condenados.

A busca pela transparência acendeu a luz verde e as mudanças são exigências para que a corrupção não continue assolando o país. Posso citar como exemplo a Lei das Estatais. Sancionada em 2016, ela estabelece novas regras para atividades licitatórias, nomeação de diretores e de presidentes em empresas públicas e sociedade mista. Para se candidatar e exercer a função será necessário 10 anos de experiência na área de atuação ou 4 anos atuando no mesmo setor em atividades correspondentes, além de formação acadêmica. Portanto, será preciso expertise para assumir a responsabilidade de um uma grande empresa, pondo um fim na escolha de líderes por conveniência ou até mesmo camaradagem. Por outro lado, posso afirmar que este novo direcionamento dará mais abertura para que os executivos que atuam hoje na área privada possam migrar para posições no governo formando um mix interessante de profissionais C-Level, que irão contribuir para a evolução das estatais.

E justamente para esses altos executivos C-level e CEOs, 2016 foi um ano atípico, de adaptações, de mudanças para se adequar a atual conjuntura e também para se preocupar com o futuro. Posso dizer que, na minha busca por profissionais, é visível que quem conseguiu inovar, minimizar GAPS para se destacar, se deu bem. Pude perceber que estes executivos viveram um ano desafiador, talvez o maior de suas carreiras. Em minha área de atuação, com empresas do segmento de consumo e varejo, vi exemplos de muitas empresas em que os altos executivos precisaram inovar, buscar maneiras criativas e eficazes de chegarem ao consumidor final para não ficarem para trás. Quem conseguiu fazer diferente, melhorar a comunicação com o cliente e buscar melhorias na produtividade foi quem melhor conseguiu navegar durante a crise.

Mas o que podemos esperar para 2017?

A expectativa, de um modo geral, é de que o país comece a entrar nos trilhos novamente. Talvez já seja possível até perceber alguns resultados positivos na política do País. Segundo o Ministro da Fazendo, Henrique Meirelles, o desemprego certamente tende a cair. A inflação para o ano que vem também deve diminuir, a previsão é de que fique abaixo de 5%. Não significa, porém, que será um ano fácil. Pelo contrário, enfrentaremos os reflexos do que ficou para trás.

Ainda é preciso cuidado e muito esforço para seguir adiante, principalmente se considerarmos que a economia deve crescer cerca de 05% a 1% no próximo ano. Não será um ano simples e fácil, ainda haverá muitos desafios para todas as empresas, mas, por outro lado, também acredito que 2017 será um ano de transição para que 2018 se consolide como um período positivo para toda a economia.

O desafio agora é se apoiar nestas perspectivas e olhar para frente. Para quem está no topo do iceberg a busca pela inovação, por novos negócios deve continuar. Para aqueles que são mais audaciosos, vale a pena correr riscos. Uma postura mais empreendedora, mais corajosa pode gerar bons frutos. Aqueles executivos que mais continuarão sendo procurados dentro do cenário que estamos vivendo hoje, sem dúvida, serão aqueles que trazem na bagagem as suas experiências, que já navegaram por crises, que têm uma visão estratégica mas que, ao mesmo tempo, também conseguem ser táticos para alcançar objetivos de curto, médio e longo prazo.

Se ajustar ao cenário atual é a única forma de manter-se competitivo e não morrer na praia. Obviamente tudo deve ser feito em doses, com cautela. Afinal, nada como um dia após o outro, um ano para nos recuperarmos do que está prestes a ficar no passado.