Tem alguém me ouvindo?

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Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novos dados do Censo 2010, entre eles aspectos em relação à perda auditiva. A pesquisa avaliou pessoas com dificuldade auditiva permanente e constatou que mais de nove milhões de brasileiros declararam ter algum tipo de deficiência auditiva. Deste total, 347 mil pessoas afirmaram não conseguir ouvir de modo algum, quase 1,8 milhão disseram ter grande dificuldade e 7,5 milhões relataram algum problema.

Os números em comparação ao Censo 2000 são preocupantes, pois o índice de pessoas que declararam ter deficiência auditiva severa subiu de 0,6% para 1,1%, isto é, mais de dois milhões de brasileiros. E diversas razões podem explicar este crescimento, como escutar música em alto volume com fones de ouvido – hábito comum atualmente, porém impróprio, pois, afeta o sistema auditivo gradativamente.

Portanto, como fonoaudióloga, tenho o dever de chamar a atenção da sociedade e do governo para esses números. Essa grande parcela da população precisa de orientação, especialmente no que tange a prevenção e de projetos específicos que permitam a capacitação profissional e a adaptação
à condição.

Poucos percebem, mas a audição é um sentido extremamente importante para a comunicação do ser humano. A falta de interatividade causada pela perda auditiva afeta o convívio social, com os familiares, no trabalho e pode até gerar quadros depressivos. Com o auxílio adequado, tratamento fonoaudiológico e o uso de aparelhos, os deficientes auditivos conseguem melhorar significativamente sua condição.

Entretanto, ainda hoje, é comum nos depararmos com histórias de pacientes que sofrem discriminação. Infelizmente, por questões culturais, no Brasil a população tem muito preconceito com pessoas portadoras de alguma deficiência. Por isso, a indústria está cada vez mais preocupada para desenvolver soluções auditivas menores, inovadores e confortáveis, que não comprometem o paciente.

A atual tecnologia permite adaptação mais agradável e eficiente para o portador de deficiência auditiva. No lugar dos aparelhos grandes e de qualidade sonora precária que usam tecnologia analógica, os aparelhos digitais são silenciosos, oferecem amplificação diferente para sons de fala e para sons de ruído, possuem uma aparência discreta e podem até mesmo se comunicar com dispositivos que utilizam Bluetooth, como, por exemplo, telefones celulares. Muito diferente das opções que o mercado oferecia no passado.

Apesar da indústria se preocupar com a estética do produto, a evolução desse cenário dependerá de toda sociedade. O fim do preconceito, a compreensão e a solidariedade podem colaborar para que o deficiente auditivo aceite sua situação e adote o tratamento para obter bons resultados. Boas práticas devem partir dos familiares e amigos que estão presentes no dia a dia do indivíduo e devem se estender para o mundo corporativo.

 * Maria do Carmo Branco é fonoaudióloga do Grupo Microsom.