Prevenir é melhor do que remediar

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

O Brasil tem obtido destaque mundial com seu crescimento, mas a lição de casa na área da saúde precisa ser feita. É fato que tivemos importantes avanços neste sentido ao longo dos últimos anos, com a criação de programas governamentais que estimulam o bem-estar, mas a cultura da precaução ainda é embrionária. Uma pena, pois quebrar esse paradigma poderia mudar seu desenvolvimento e trazer importantes ganhos para a população. 

Em uma rápida busca na página do Ministério da Saúde, é possível constatar que existem atualmente cerca de dez programas nacionais ligados à prevenção, com destaque para o combate à dengue, saúde da família, campanhas de vacinação e de prevenção à Aids. O avanço esperado para o Brasil só será atingido quando tivermos, de fato, ações que estimulem a realização de exames periódicos para tratar as doenças assim que elas são descobertas.

Não é surpresa de que não existem no Brasil dados sobre os investimentos em prevenção de doenças. De forma genérica, sabe-se que a saúde representa 3,3% dos gastos públicos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Pelo fato da prevenção não ser amplamente discutida no Brasil, poucos estão familiarizados com suas vantagens. Acabam debatendo o tema apenas quando têm uma doença grave e descobrem que ela poderia estar controlada se fosse diagnosticada antes. 

Há alguns anos, as classes C, D e E não tinham condições de pagar pelos seus exames. Hoje têm. Um simples exame de sangue pode identificar doenças graves e reduzir significativamente o tratamento. Um hemograma completo, por exemplo, custa apenas R$ 10, um teste de HIV sai por R$ 50 e o de colesterol R$ 7. Um plano de saúde custa por mês o mesmo que uma única consulta particular. Porém apenas 25% dos brasileiros possuem planos de saúde.

Acredito que o grande desafio que o Brasil tem pela frente para ser um País desenvolvido, é ter uma população saudável. Nos âmbitos regionais, estaduais e federal, muitas iniciativas já começaram a ser feitas, mas a adesão por parte da sociedade é fundamental, seja instruindo a população ou cobrando os governantes.

Essa lição de casa parece simples, mas demanda uma atenção extra para os governos e  população. Até mesmo na Europa, os sistemas de saúde são excessivamente concentrados nos cuidados dos doentes. Segundo o relatório “Um olhar para a Saúde: Europa 2010”, resultado de uma parceria entre a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) e a Comissão Europeia, ainda que as despesas com saúde tenham aumentado em todas as nações do bloco em taxa mais rápida que o crescimento econômico, seus governantes se veem obrigados a cortar gastos devido à necessidade atual de reduzir déficits orçamentários. Se o olhar sobre a saúde for revisto, até mesmo a Noruega, que é um modelo para a Europa por investir em saúde 4,3 mil euros por pessoa ao ano, poderia manter a qualidade da população e reduzir custos . Para tanto, bastaria focar na prevenção da saúde e não apenas no tratamento.

No Brasil, talvez por conta da falta de conscientização e do hábito de realizar exames de controle, uma quantidade tão grande de pessoas sofra de pressão alta, diabetes e com altos níveis de colesterol, obrigando o Governo a criar um plano agressivo de tratamento, como o Farmácia Popular, que prevê doação ou venda de medicamentos a valores irrisórios. A iniciativa é excelente, mas em paralelo, temos que começar a orientar a população a fazer exames de rotina. Como dizia minha avó, prevenir é melhor do que remediar.

*Rogério Saladino é presidente do Grupo BIOFAST, uma das principais empresas de análises clínicas do Brasil.