O planejamento fundamental do estoque

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Por Hamilton Picolotti*

O mercado de bebidas no Brasil movimenta cerca de 13 bilhões de litros de cerveja por ano. O clima tropical, as datas comemorativas e as questões culturais estimulam o consumo de cerveja e refrigerante, exigindo um planejamento do estoque de alto giro, que implica em melhor utilização do capital, aumentando o retorno sobre os investimentos e reduzindo o valor do capital de giro.
A logística do setor de bebidas requer capacidade operacional e processos estruturados para movimentação, armazenagem e gestão de grandes volumes de mercadorias, com know-how operacional, pois o alto volume é uma característica predominante. Esta indústria tem a diferença do consumo imediato, ou seja, são cargas que exigem controle rígido de temperatura e validade, requerendo assim uma logística rápida e eficiente, pois é necessário trabalhar com uma margem de produtos no estoque, principalmente em períodos de sazonalidade como no final de ano, em que o consumo de cerveja aumenta em dois dígitos. Por outro lado alguns produtos, como o chopp, têm a validade muito curta e o estoque em excesso representa dinheiro parado.
A estocagem é um processo estratégico na logística, pois a falta de um produto ou entrega após a data de validade pode gerar inúmeros problemas. E ela representa um custo importante para as empresas brasileiras dentro da operação, conforme aponta pesquisa realizada pelo ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain), em 2011. Dos custos logísticos totais, os estoques constituem uma parcela de 26%, porcentagem menor apenas que os gastos com transportes. A mesma pesquisa revela, ainda, que os custos logísticos representam 11,6% do PIB (Produto Interno Bruto), dos quais 3,5% são relativos aos estoques.
Primeiramente, é necessário que haja uma estrutura física apropriada para receber uma grande quantidade de produtos para armazenagem, em condições ideais. O armazenamento deve ser feito de modo que auxilie a retirada diária para distribuição, otimizando assim o tempo de entrega. O cálculo de produto de alta demanda que entra e sai do estoque deve ser perfeito e verificado diariamente. A medida exata da compra desafia o equilíbrio entre os benefícios de um alto giro e o risco da falta de mercadorias. Muitas vezes, os produtos recebidos no estoque não chegam a passar pelo processo de armazenagem, que são as chamadas operações de cross-docking, para diminuir o tempo das operações.
No caso da indústria de bebidas, o modelo de armazenagem realizado é o “Primeiro que entra, Primeiro que sai”, ideal para estoques de alto giro e com produtos de perecibilidade curta. A importância de administrar os estoques de forma sistemática e profissional, passando a avaliar as suas necessidades de reposição de forma mais acurada e realista, garante distribuição certeira. Algumas indústrias, como a automobilística, têm a possibilidade de trabalhar com o sistema Just In Time, cujo conceito está relacionado ao de produção por demanda, em que primeiro vende-se o produto para posteriormente comprar a matéria-prima e fabricá-lo ou montá-lo.
O mesmo estudo realizado pelo ILOS apontou que o setor de bebidas é o segundo que mais investe em logística, atrás apenas do setor de agronegócios. Enquanto a média geral de gastos foi de 8,5% em relação à receita líquida, o setor de bebidas gastou 12,1%. É importante ressaltar aqui a importância do setor continuar investindo em logística e estocagem, pois a disponibilidade de produtos e facilidade de retirada para entrega são a chave do sucesso para uma grande distribuidora.

* Hamilton Picolotti é presidente da Confenar – Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição