Gagueira tem origem neurológica ou genética

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Nos dias de hoje, algumas pessoas ainda acreditam que a gagueira, um dos distúrbios da fala, tem origem psicológica. Por conta disso, cientistas e pesquisadores continuam a realizar estudos para detectar a causa do problema. Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), o problema central da gagueira consiste em uma dificuldade do cérebro para sinalizar o término de um som ou uma sílaba e passar automaticamente para o próximo. Desta forma, a pessoa consegue iniciar a palavra, mas fica “presa” em algum som ou sílaba até que o cérebro consiga gerar o comando necessário para dar prosseguimento ao restante da palavra.
“A gagueira é um distúrbio em que acontecem quebras ou rupturas involuntárias no fluxo da fala. Ela é caracterizada por repetições de sons, sílabas, palavras, prolongamentos, bloqueios e pausas. A pessoa que gagueja sabe exatamente o que quer dizer, mas tem dificuldade na automatização e na temporalização dos movimentos da fala”, explica a fonoaudióloga do Grupo Microsom, Érica Ferraz.
Segundo a especialista, a pessoa com gagueira não possui nenhum problema na boca ou na língua, nem dificuldade para elaborar o raciocínio, mas uma disfunção no cérebro que torna difícil a percepção de quando começa e quando termina um som. “Desta forma, a gagueira não está relacionada à inteligência e também não é contagiosa”, ressalta Érica.
Além das causas neurológicas, estudos científicos também indicam que a gagueira é causada por múltiplos fatores, entre eles o genético – em que pessoas da mesma família, de diferentes gerações, carregam o gene responsável pela gagueira, que pode ou não se manifestar, dependendo da interação com os fatores sociais e psicológicos a que a pessoa é exposta. “A gagueira também pode ter como causa, fatores orgânicos, como disfunções ou lesões cerebrais”, diz a fonoaudióloga.
Para o tratamento da gagueira foi desenvolvido o SpeechEasy, um pequeno e discreto aparelho utilizado na região interna da orelha, que simula o “efeito coro” – um fenômeno natural e tema de muitas pesquisas há décadas. O “efeito coro” ocorre quando uma pessoa que gagueja fala ou lê ao mesmo tempo em que outra pessoa, reduzindo a gagueira.
O SpeechEasy, por fazer a voz do usuário alcançar o cérebro com um ligeiro atraso e com um tom diferente, fornece a sensação da pessoa estar falando ao mesmo tempo em que outro indivíduo, desencadeando o efeito coro, que reduz a gagueira. O produto favorece a fluência da fala em situações cotidianas, promovendo o bem-estar e melhor qualidade de vida ao usuário.
A tecnologia aplicada no SpeechEasy possibilita o aumento da fluência em diversas situações. No entanto, é importante ressaltar que o equipamento não é cura e sim um auxiliador no tratamento da gagueira.
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que 80% dos usuários se sentem satisfeitos com o uso do equipamento. Mais de 85% dos clientes apresentam como vantagens o aumento de confiança, liberdade e auto-estima, assim como a melhora nos relacionamentos sociais e profissionais.
De acordo com o IBGE, a população brasileira é de 192 milhões de pessoas. Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), a incidência da gagueira no Brasil é de 5%, ou seja, 9,5 milhões de brasileiros estão passando por um período de gagueira neste momento. Este número é maior do que a população da cidade do Rio de Janeiro. A prevalência da gagueira é de 1%, ou seja, 1,9 milhão de brasileiros gagueja há muitos anos de forma persistente, crônica. Este número é maior do que a população de Manaus ou Curitiba.

Novo estudo referente à gagueira

Recentemente, um novo estudo foi apresentado pelo Instituto Nacional de Surdez e outras Desordens de Comunicação (NIDCD, na sigla em inglês), um dos Institutos Nacionais de Saúde do governo norte-americano. As pesquisas, realizadas por um grupo de cientistas nos Estados Unidos, apontaram três genes como causadores da gagueira em indivíduos na Inglaterra, Paquistão e Estados Unidos. Mutações em dois desses genes haviam sido anteriormente identificadas em outros distúrbios metabólicos também envolvendo o ciclo celular.
O grupo sequenciou a região em torno deste terceiro gene e identificou mutações em um gene conhecido como GNPTAB nas pessoas que gaguejam.
Em seguida, os pesquisadores analisaram os genes de 123 outros paquistaneses que gaguejam – 46 que pertenciam às famílias examinadas inicialmente e 77 sem relação com os demais – e 96 pessoas que não sofriam com o problema.
Os cientistas encontraram indivíduos que gaguejam com a mesma mutação genética descoberta nas famílias iniciais. O trabalho foi repetido com 546 ingleses e norte-americanos, e obteve-se um resultado semelhante. Os pesquisadores descobriram a mesma mutação observada nos paquistaneses, em pessoas que gaguejam, desses dois países.
Os especialistas estimam que cerca de 9% das pessoas que sofrem de gagueira tenham mutações em um dos três genes identificados. Na sequência da pesquisa, será conduzido um estudo epidemiológico mundial para determinar melhor o percentual da população que carrega uma ou mais dessas variantes genéticas.