Artigo: Fim do almoço grátis e o poupador brasileiro

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Daniel Moreli*

Recentemente a presidente Dilma Rousseff indicou uma nova realidade para os bancos: “o Brasil foi o último almoço grátis no mundo”. A nova realidade de juros cobrados pelos bancos deve servir de reflexão também para os poupadores brasileiros em um ambiente de queda da taxa de juros.

O brasileiro acostumou-se com taxas de juros muito altas em investimentos de pouco risco. Dados dos últimos meses marcaram um ponto inicial de mudança importante neste comportamento já que o juro real foi negativo na variação mensal em setembro, novembro e dezembro, uma novidade desde que o país deu início ao sistema de metas de inflação. Isto acontece em um ambiente de inflação alta com taxa de juros em patamares mínimos históricos.

Este ambiente de juros reais negativos não é exclusivo do Brasil, principalmente após a eclosão da crise econômico-financeira atual. Isto pode ser verificado pelos títulos indexados à inflação. Atualmente as TIPS americanas de dez anos estão sendo negociadas com juros negativos de -0,6% aa. Neste caso o investidor “aceita” receber um rendimento negativo porque ele será compensado com uma inflação esperada elevada. A realidade brasileira ainda está longe de ser comparada com a realidade americana mas não deixa de chamar atenção o fato de que os juros reais no curto prazo podem ficar muito próximos de zero. A NTN-B com vencimento em maio de 2013 é negociada com taxa negativa de -0,1% aa.

Não sabemos ainda se este novo patamar de juros reais será sustentável. O Banco Central realizou uma pesquisa junto aos economistas em 2012 com o objetivo de averiguar qual seria o juro real de equilíbrio da economia com o resultado de 5,5%. Ou seja, dada a atual taxa de juros real e dada a taxa que os economistas julgam ser de equilíbrio, em um determinado momento o banco central terá que elevar o juro real se não quiser ver um processo de aceleração inflacionária. Portanto não seria de imediato a convergência do juro real brasileiro para patamares internacionais.

Dentro deste processo de incertezas em relação ao ambiente macroeconômico dos próximos anos e conseqüentemente das taxas de juros praticadas pelos bancos centrais em todo o mundo, vale uma análise mais profunda das alternativas de investimento disponíveis. O mercado de renda fixa corporativa no Brasil, de cerca de R$ 180 bilhões (excetuando-se empresas de leasing), ainda encontra-se no estágio inicial de evolução se comparado com a dimensão do mercado americano que passa dos U$ 2 trilhões ou do mercado mundial de U$ 11 trilhões, segundo dados do BIS (Bank for International Settlements). Ou seja, este volume pode facilmente crescer nos próximos anos e oferecer uma oportunidade interessante para os investidores.

De certo modo o desenvolvimento do mercado de renda fixa corporativa pode ajudar o Brasil ao expandir possibilidade de captação de recursos para empresas de uma forma mais democrática e barata, mobilizando e alocando fundos para setores produtivos, reduzindo o custo de capital e fomentando novos negócios. Indiretamente estaria contribuindo também para aumentar a produtividade do capital e o potencial de crescimento da economia.

 

*Daniel Luis Moreli Rocha é Superintendente de Tesouraria do BI&P – Banco Indusval & Partners